História do grupo
O Queen é, sem dúvida, um
fenômeno do rock. Não só do rock, como de toda a história da música. Mesmo
antes da trágica morte do líder vocalista Freddie Mercury, em novembro de 1991,
o grupo já era reconhecido como um dos maiores de todos os tempos. Através da
mistura de elementos do pop, rock, glam, electro, funk, ópera, e até mesmo Rockabilly,
eles quebraram todas as barreiras estilísticas da música, mantendo-se a frente
das tendências de momento, sem tornar-se vítima da moda e mesmo com a quase
total falta de cobertura da imprensa musical, seus lançamentos venderam em
número cada vez maior.
A história do Queen começa com
Smile, uma banda de rock desconhecida do início dos anos setenta, formada por
dois estudantes de ciência, Brian May e Roger Taylor. "Coloquei um anúncio
no painel da faculdade procurando um baterista que pudesse fazer o tipo de
coisa que Hendrix e o Cream faziam, e o Roger era perfeito", Brian nos
conta. Brian começou com a guitarra que toca até hoje. O som diferenciado é
devido à sua guitarra inusitada, ser construída de madeira do século 19, com
ajuda de seu pai. Esta reciclagem surpreendente permitiu a criação de uma
infinidade de tons, e Brian inovou ainda mais pelo uso de uma moeda antiga de
prata em lugar da palheta de plástico comumente usada pelos outros
guitarristas. Houve alguns grupos anteriores ao Smile, mas como Brian disse,
"Nenhum desses grupos chegaram em algum lugar porque nós nunca tocamos
para valer". O encontro com Roger fez tudo mudar. "Ele era o melhor
baterista que eu já tinha visto", Brian admitiu.
Roger Taylor cresceu em Truro,
Cornwall, e descobriu suas ambições musicais na juventude, primeiro como
guitarrista, e mais tarde como baterista, apesar da desaprovação dos pais. Mas
o estrelato exigiria sacrifícios. No verão de 1969, Brian trabalhava como
professor de matemática, enquanto Roger vendia roupas de segunda-mão. Segundo
Brian, eles sabiam que o Smile não chegaria a lugar nenhum, pois sem um disco
próprio, acabavam caindo no esquecimento, mesmo entre as pessoas que apreciavam
as apresentações.
Ainda assim, Brian acredita que o
grupo estava além de seu tempo. "Existem fitas do Smile que possuem as
mesmas estruturas gerais do nosso trabalho atual". Já a entrada de Tim
Staffel no grupo foi curiosa. Ele veio para substituir o vocalista, e também
para ser o baixista, embora o instrumento de sua preferência fosse o piano.
Morava a poucos metros de distância de Brian May, desde que se mudara para a
Inglaterra em 1959, mas só foram se conhecer quase dez anos depois. A cena se
abre então para Frederick Bulsara, nascido em Zanzibar (parte atual da
Tanzânia). Diplomado em arte e design pela mesma escola onde passaram Ron Wood
(Rolling Stones) e Pete Townshend (The Who), ele já havia participado de grupos
com nomes extravagantes que não deram em nada, mas que aumentaram seu apetite
pelo mundo do rock, a ponto de mudar seu nome para Freddie Mercury.
Na época em que se envolveu com o Smile, ele
estava trabalhando com Roger num stand de roupas usadas no Kensington Market em
Londres. "Freddie sempre pareceu um astro e agia como um, mesmo quando não
tinha um tostão sequer", lembra-se Brian. "Com aquele stand, ele se
tornou um dos precursores do glam rock. Quando fomos todos morar juntos, Freddie
trazia grandes malas e ia tirando delas algumas peças horríveis de roupas e
dizendo: "Olha que roupa linda! Isso vai valer uma fortuna!""
Ainda no Kensington Market, Freddie conheceu Mary Austin, que administrava uma
butique lá perto, e os dois viveram juntos por muitos anos. Mesmo quando seu
lado gay aflorou, ela continuou sendo sua melhor amiga.
"Freddie era amigo de Tim
que compareceu a muitas de nossas apresentações, e fez sugestões irrecusáveis.
Naquele tempo, ele ainda não havia tentando ser cantor, e nós não sabíamos que
ele podia ser. Nós pensávamos que ele fosse só um músico teatral". Freddie
acabou sendo muito mais do que isso. "Quando acabamos com o Smile, foi ele
que nos fez voltar, disse que éramos capazes, e que teríamos apenas que ensaiar
e nos apresentar melhor no palco. E nós voltamos, reciclando algumas músicas do
Smile e de um grupo anterior do Freddie".
Portanto, três peças do
quebra-cabeça já haviam se juntado, mas o quadro ainda estava incompleto.
Faltava John Deacon, o sétimo baixista a ser testado pelo grupo. Outro
estudante de peso, que havia se graduado com nota máxima em eletrônica, seis
meses antes de se juntar ao Queen. "Nós sabíamos que ele era o cara
certo", disse Brian mais tarde, "mesmo sendo tão quieto, dificilmente
falava com a gente..." O nome Queen foi concebido por Freddie, que o
considerava "forte, universal e imediato". E seus talentos artísticos
foram logo solicitados para a criação do logotipo do "Q coroado" que
apareceria nos discos da banda e se tomaria parte integrante da imagem do
grupo.
Os signos astrológicos de cada
membro foram também incorporados. A ambição corria solta, mas, a curto prazo
pelo menos, cobrou seu preço. "Se íamos abandonar nossas carreiras após
tanto esforço", dizia Brian, "queríamos conseguir o melhor no campo
da música. E nada veio fácil. Para ser sincero, acho que nenhum de nós fazia a
menor idéia de que levaríamos três anos para conseguir algum resultado. Não foi
nenhum conto de fadas". No ano seguinte, o grupo já tinha material
suficiente para gravar nos estúdios De Lane Lea. Foi um acordo inusitado, já
que foram como convidados para testar o novo equipamento de gravação a ser
usado por clientes em potencial, e portanto não foram cobrados.
Os engenheiros de som com quem
trabalharam sugeriram a produtora Trident que contratasse o Queen. E deste
modo, o álbum foi gravado nos momentos em que o estúdio não estava sendo
ocupado por clientes pagantes. E a EMI Records foi encarregada de lançar os
discos no mercado. A banda e o produtor passaram os primeiros meses de 1973
gravando este disco que foi entitulado simplesmente "Queen", mas o
desapontamento veio logo em seguida, quando o primeiro hit do álbum foi
rejeitado cinco vezes pelas rádios.
Audaciosamente, a banda voltou
aos estúdios para gravar "Queen II" em agosto daquele mesmo ano.
"Desta vez tentamos ultrapassar os limites técnicos do estúdio",
explicou Brian. "Era um sonho para nós, porque não tivemos esta
oportunidade no primeiro disco". Três meses depois, o Queen fez suas
primeiras aparições ao vivo em vários lugares da Inglaterra, abrindo os shows
do grupo Mott the Hoople.
Em março de 1974, o Queen iniciou
a sua própria turnê pela Inglaterra. E Freddie já monopolizava as atenções,
devido a sua maneira excêntrica de se vestir. Em abril daquele ano, o Queen
apareceu pela primeira vez na televisão e causou impacto imediato, levando a
música Seven Seas Of Rhye às paradas. O lançamento de Killer Queen em
outubro/74 foi um grande marco para a banda. Freddie chegou a ser premiado pela
música, que segundo Brian, é a que melhor sintetiza o estilo do grupo, e
felizmente apareceu no momento certo".
Ela alcançou o segundo posto nas
paradas, e confirmou a presença de Queen no cenário musical. "Muita gente
pensava que nós éramos uma banda de heavy metal", disse John, "mas
Killer Queen mostrou um lado completamente novo do grupo, e nos abriu um
maiorespaço, que certamente atingiu a um maior número de pessoas". O disco
se chamava Sheer Heart Attack, trazia na capa a banda toda coberta com vaselina
e molhada por uma mangueira! "O resultado final," admitiu Freddie,
"é uma banda com quatro elementos decididamente bronzeados e esbeltos, e
tão ensopados como se tivessem suado a semana inteira!" Logo, porém, eles
estariam suando de verdade, excursionando pela Inglaterra pela terceira vez no
ano para consolidar seu sucesso natal.
A turnê de 1974 provocou um
frenesi sem igual dos fãs. Em algumas noites, a banda mal podia deixar o palco.
Na Escócia, houve até brigas e feridos na platéia. E nos Estados Unidos foram
agendados cinco shows em Nova Iorque. Nesta época, a guitarra sinfônica de
Brian e o toque diferente do piano de Freddie já eram marcas registradas da
banda. Muitas pessoas acreditavam que eles faziam uso de sintetizadores, mas
nos primeiros nove discos nunca houve nem sintetizador nem orquestra, e nem
mesmo qualquer outro músico além deles apenas. "Bohemian Rhapsody"
colocou-os de vez entre os monstros do rock.
Ela levou cerca de três semanas
para ser gravada, pois se tratava de três músicas condensadas em uma. Muita gente
do showbis duvidava que uma música com sete minutos pudesse chegar às paradas,
mas ela emplacou por 17 semanas, no mínimo. Ainda assim, o sucesso nos Estados
Unidos demorava para se confirmar, e para piorar, Freddie perdeu a voz no meio
da turnê americana. Felizmente, no Japão, as coisas foram diferentes.
Cerca de 3000 garotas esperavam
por eles aos berros no aeroporto de Tóquio. O quinto álbum, "A Day at the
Races" (1975), foi marcado por uma festa memorável num hipódromo, no sul
de Londres. Era a primeira vez que o Queen produzia seu próprio disco, e o
sucesso de "We Are the Champions" conquistou finalmente os Estados
Unidos. O sucesso do disco foi comemorado num concerto para 150.000 fãs, no
Hyde Park, em Londres, com entrada franca.
Iniciaram assim, uma tradição que foi
perpetuada por astros de peso de Pink Floyd a Pavaroti! A imprensa deste
período, que se voltava para o punk rock, tentava destronar o Queen de várias
formas, mas a resposta do público ainda era impressionante. No palco, as calças
de couro de Freddie levantavam insultos da crítica, e ele respondia
profeticamente, "Estamos usando apenas nossas próprias armas, e se elas
valerem alguma coisa, sobreviveremos".
Na turnê de 1978, Freddie aparecia carregado
por dois fortões vestidos de Superman, como numa provocação. Ao final dos anos
setenta, o Queen procurava uma nova fórmula de sucesso para o rock, e ela
finalmente veio com "Crazy Little Thing Called Love", música feita no
estilo de Elvis Presley, e a primeira a alcançar o primeiro lugar nos Estados
Unidos. "Não medimos nossa reputação pelas paradas de sucesso", disse
Brian, "mas cada hit que você faz, acaba atraindo um novo tipo de
público". No palco, "Crazy" fazia Freddie trocar seu famoso
microfone por uma guitarra acústica de 12 cordas, além de trazê-lo com seu novo
visual de cabelos curtos E de repente, a crítica voltou a fazer as pazes com o
grupo, impressionada ainda mais pela participação da banda num concerto
beneficente, em dezembro de 1979, pelo povo de Kampuchea.
O disco "The Game"
trouxe o sucesso de John Deacon, "Another One Bites the Dust", que
abriu um novo mercado para o Queen: as rádios de música negra. O próximo passo
foi a trilha sonora de Flash Gordon. Em fevereiro de 1981 foi a vez de uma
grande turnê pela América Latina. "Nós estávamos muito nervosos",
admitiu Freddie. "Não tínhamos o direito de criar expectativas num lugar
totalmente estranho. E acho que eles nunca tinham visto um show tão ambicioso
antes". É claro que o sucesso foi estrondoso. E algum tempo depois, nem
mesmo a Guerra das Malvinas impedia que o grupo dominasse as paradas
argentinas.
O concerto deles em São Paulo
reuniu o número inacreditável de 251.000 pessoas, imortalizando o grupo nas
páginas do Guinness Book.
A primeira coletânea de sucessos
da banda ficou mais de três anos nas paradas britânicas! Mas o próximo álbum
"Hot Space" não atingiu o sucesso esperado e marcou uma pausa na
carreira do Queen - a primeira em doze anos de união. Entretanto, Freddie não admitia
que se falasse em separação. "Eu achava que ficaríamos uns cinco anos
juntos, mas agora estamos muito velhos para desistir". Realmente, a pausa
aumentou o apetite por novas músicas.
E o trabalho lançado em 1984,
"The Works", trazia pérolas como Radio Ga Ga, de autoria de Roger, e
que fez a banda alcançar um feito inédito todos os quatro elementos do grupo
tiveram suas próprias composições no hit parade. Outra música, "I Want to
Break Free", trouxe um vídeo audacioso, com toda banda travestida de
mulher, e arrancou risadas até de seus fiéis seguidores. Mas nos Estados
Unidos, teve o efeito inverso. Enquanto o resto do mundo ria, os americanos se
ofendiam. Em outubro de 1984, outra controvérsia surgiu: o grupo tocou oito
dias na capital da Africa do Sul, e certamente foi acusado de racismo, devido
ao apartheid.
Já 1985 iniciou brilhantemente,
com dois shows no Rock in Rio, em janeiro, aqui no Brasil. "Primeiramente,
fomos à América do Sul como convidados. Mas agora, eu quero comprar o
continente inteiro e me tomar presidente", comentou Freddie. O primeiro
disco solo de Freddie Mercury chamava-se "Mr. Bad Guy", e era bem
diferente do trabalho do Queen. No entanto, não era a música de Freddie que
importava para a mídia, e sim sua vida amorosa. Ele já havia admitido
publicamente, a exemplo de Elton John, que se sentia atraído por ambos os
sexos. Seu relacionamento com Mary Austin, havia se transformado numa forte
amizade. E ele admitia que era muito difícil encontrar a companhia ideal.
Mas queria continuar tentando.
Com relação ao Queen, a participação no concerto "Live Aid" foi
motivo de orgulho para a banda. "Foi um daqueles dias em que nos alegramos
por fazer parte do showbusines. O show aumentou a nossa moral, e nos mostrou a
força que tínhamos na Inglaterra". O próprio Bob Geldof, idealizador do
concerto, elegeu-os como a melhor banda de todas. A turnê Magic Tour teve que
adicionar mais datas para apresentações em Wembley, na Inglaterra, pois os
oitenta mil ingressos disponíveis foram vendidos imediatamente, apenas por via
postal. Mais tarde veio o sucesso da trilha sonora de Highlander.
Além disto, o maior solo de
Freddie, "The Great Pretender", atingia as paradas, seguido por
"Barcelona" com a cantora de ópera Montserrat Caballé.Em maio de 1989
apareceu o primeiro disco do Queen após 3 anos, "The Miracle", mas
Freddie não se dispôs a enfrentar uma turnê. Roger rapidamente reagiu aos
comentários sobre o estado de saúde de Freddie. "Que nada! Freddie está
mais saudável do que nunca".
Entretanto, Freddie quase não
saía mais de sua mansão em Londres. Em fevereiro de 1990, a indústria
fonográfica britânica os premiou pela sua importante contribuição para o mundo
musical, mas os jornalistas só se preocupavam com a aparência pálida de
Freddie. Brian o defendeu: "Ele está bem e não tem AIDS, mas eu acho que o
estilo pesado do rock o derrubou. Ele precisa apenas descansar. Em 1991, surge
o álbum "lnnuendo", alcançando o primeiro lugar nas paradas, mas os
rumores sobre a saúde de Freddie eram maiores do que nunca.
Finalmente, em 23 de novembro de
91, uma curta declaração confirmou o pior. "Seguindo as enormes
conjecturas da imprensa, quero confirmar que sou soro positivo e portanto tenho
AIDS. Achei correto manter esta informação oculta para proteger a privacidade dos
que me rodeiam.
Entretanto, chegou a hora dos
meus amigos e fãs ao redor do mundo saberem a verdade, e eu espero que todos,
juntamente com meus médicos, lutem contra esta terrível doença. Minha
privacidade sempre foi muito importante para mim, e eu sou famoso por não dar
entrevistas. Por favor, entendam que esta política continuará".
No dia seguinte, Freddie morreu.
A banda logo fez questão de anunciar que sem Freddie Mercury o Queen não
poderia sobreviver. "Não há sentido em continuar. E impossível substituir
Freddie. Estamos terrivelmente abalados com sua ida, mas muito orgulhosos do
modo corajoso com que ele viveu e morreu. Foi um privilégio dividir com ele
momentos tão mágicos". Em abril de 1992, um concerto em homenagem ao
mestre dos palcos de todos o tempos foi realizado em Londres, no Wembley
Stadium. Vários astros compareceram.
De Elton John a Guns N' Roses,
Def Leppard a Liza Minelli, todos vieram se despedir de Freddie. De todas as
homenagens do dia, a de Axl Rose foi a mais tocante. "Se eu não tivesse
conhecido as letras de Freddie Mercury quando era garoto, não sei onde eu
estaria hoje. Foi ele quem me ensinou sobre todas as formas de música, e abriu
a minha mente.
Nunca houve um maior professor em
minha vida". Os 75 mil ingressos para o show venderam em seis horas.
"Para muitos fãs", disse Roger Taylor, "este show substituiu o
tradicional velório. Foi o modo de todos dizerem adeus". O relançamento de
Bohemian Rhapsody não foi o último modo de comemorar a vida de Freddie. Brian
May também deixou de lado sua guitarra e sentou-se ao piano para tocar uma nova
música chamada "Too Much Love Will Kill You".
E um álbum duplo da última turnê
da banda em 1986 foi lançado, lembrando o que o mundo havia perdido. Mas é
claro que enquanto a voz de Freddie continuar ecoando nas músicas do Queen, ele
e também nós seremos sempre campeões, como ele já previa em We Are the
Champions. O Queen é, sem dúvida, um fenômeno do rock. Não só do rock, como de
toda a história da música.
Mesmo antes da trágica morte do líder
vocalista Freddie Mercury, em novembro de 1991, o grupo já era reconhecido como
um dos maiores de todos os tempos. Através da mistura de elementos do pop,
rock, glam, electro, funk, ópera, e até mesmo rockabilly, eles quebraram todas
as barreiras estilísticas da música, mantendo-se a frente das tendências de
momento, sem tornar-se vítima da moda e mesmo com a quase total falta de
cobertura da imprensa musical, seus lançamentos venderam em número cada vez
maior.
A história do Queen começa com
Smile, uma banda de rock desconhecida do início dos anos setenta, formada por
dois estudantes de ciência, Brian May e Roger Taylor. "Coloquei um anúncio
no painel da faculdade procurando um baterista que pudesse fazer o tipo de
coisa que Hendrix e o Cream faziam, e o Roger era perfeito", Brian nos
conta.
Brian começou com a guitarra que toca até
hoje. O som diferenciado é devido à sua guitarra inusitada, ser construída de
madeira do século 19, com ajuda de seu pai. Esta reciclagem surpreendente
permitiu a criação de uma infinidade de tons, e Brian inovou ainda mais pelo
uso de uma moeda antiga de prata em lugar da palheta de plástico comumente
usada pelos outros guitarristas. Houve alguns grupos anteriores ao Smile, mas
como Brian disse, "Nenhum desses grupos chegaram em algum lugar porque nós
nunca tocamos para valer".
O encontro com Roger fez tudo
mudar. "Ele era o melhor baterista que eu já tinha visto", Brian
admitiu. Roger Taylor cresceu em Truro, Cornwall, e descobriu suas ambições
musicais na juventude, primeiro como guitarrista, e mais tarde como baterista,
apesar da desaprovação dos pais. Mas o estrelato exigiria sacrifícios. No verão
de 1969,
Brian trabalhava como professor
de matemática, enquanto Roger vendia roupas de segunda-mão. Segundo Brian, eles
sabiam que o Smile não chegaria a lugar nenhum, pois sem um disco próprio,
acabavam caindo no esquecimento, mesmo entre as pessoas que apreciavam as
apresentações. Ainda assim, Brian acredita que o grupo estava além de seu
tempo. "Existem fitas do Smile que possuem as mesmas estruturas gerais do
nosso trabalho atual".
Já a entrada de Tim Staffel no grupo foi
curiosa. Ele veio para substituir o vocalista, e também para ser o baixista,
embora o instrumento de sua preferência fosse o piano. Morava a poucos metros de
distância de Brian May, desde que se mudara para a Inglaterra em 1959, mas só
foram se conhecer quase dez anos depois.
A cena se abre então para
Frederick Bulsara, nascido em Zanzibar (parte atual da Tanzânia). Diplomado em
arte e design pela mesma escola onde passaram Ron Wood (Rolling Stones) e Pete
Townshend (The Who), ele já havia participado de grupos com nomes extravagantes
que não deram em nada, mas que aumentaram seu apetite pelo mundo do rock, a
ponto de mudar seu nome para Freddie Mercurv. Na época em que se envolveu com o
Smile, ele estava trabalhando com Roger num stand de roupas usadas no
Kensington Market em Londres.
"Freddie sempre pareceu um
astro e agia como um, mesmo quando não tinha um tostão sequer", lembra-se
Brian. "Com aquele stand, ele se tornou um dos precursores do glam rock.
Quando fomos todos morar juntos, Freddie trazia grandes malas e ia tirando
delas algumas peças horríveis de roupas e dizendo: "Olha que roupa linda!
Isso vai valer uma fortuna!""
Ainda no Kensington Market, Freddie
conheceu Mary Austin, que administrava uma butique lá perto, e os dois viveram
juntos por muitos anos. Mesmo quando seu lado gay aflorou, ela continuou sendo
sua melhor amiga. "Freddie era amigo de Tim que compareceu a muitas de
nossas apresentações, e fez sugestões irrecusáveis.
Naquele tempo, ele ainda não
havia tentando ser cantor, e nós não sabíamos que ele podia ser. Nós pensávamos
que ele fosse só um músico teatral". Freddie acabou sendo muito mais do
que isso. "Quando acabamos com o Smile, foi ele que nos fez voltar, disse
que éramos capazes, e que teríamos apenas que ensaiar e nos apresentar melhor
no palco.
E nós voltamos, reciclando algumas músicas do
Smile e de um grupo anterior do Freddie". Portanto, três peças do
quebra-cabeça já haviam se juntado, mas o quadro ainda estava incompleto.
Faltava John Deacon, o sétimo baixista a ser testado pelo grupo. Outro
estudante de peso, que havia se graduado com nota máxima em eletrônica, seis
meses antes de se juntar ao Queen.
"Nós sabíamos que ele era o
cara certo", disse Brian mais tarde, "mesmo sendo tão quieto,
dificilmente falava com a gente..." O nome Queen foi concebido por
Freddie, que o considerava "forte, universal e imediato". E seus
talentos artísticos foram logo solicitados para a criação do logotipo do
"Q coroado" que apareceria nos discos da banda e se tomaria parte
integrante da imagem do grupo. Os signos astrológicos de cada membro foram
também incorporados.
A ambição corria solta, mas, a
curto prazo pelo menos, cobrou seu preço. "Se íamos abandonar nossas
carreiras após tanto esforço", dizia Brian, "queríamos conseguir o
melhor no campo da música. E nada veio fácil. Para ser sincero, acho que nenhum
de nós fazia a menor idéia de que levaríamos três anos para conseguir algum resultado.
Não foi nenhum conto de
fadas". No ano seguinte, o grupo já tinha material suficiente para gravar
nos estúdios De Lane Lea. Foi um acordo inusitado, já que foram como convidados
para testar o novo equipamento de gravação a ser usado por clientes em potencial,
e portanto não foram cobrados. Os engenheiros de som com quem trabalharam
sugeriram a produtora Trident que contratasse o Queen.
E deste modo, o álbum foi gravado
nos momentos em que o estúdio não estava sendo ocupado por clientes pagantes. E
a EMI Records foi encarregada de lançar os discos no mercado. A banda e o
produtor passaram os primeiros meses de 1973 gravando este disco que foi
entitulado simplesmente "Queen", mas o desapontamento veio logo em
seguida, quando o primeiro hit do álbum foi rejeitado cinco vezes pelas rádios.
Audaciosamente, a banda voltou aos estúdios
para gravar "Queen II" em agosto daquele mesmo ano. "Desta vez
tentamos ultrapassar os limites técnicos do estúdio", explicou Brian.
"Era um sonho para nós, porque não tivemos esta oportunidade no primeiro
disco".
Três meses depois, o Queen fez
suas primeiras aparições ao vivo em vários lugares da Inglaterra, abrindo os
shows do grupo Mott the Hoople.Em março de 1974, o Queen iniciou a sua própria
turnê pela Inglaterra.
E Freddie já monopolizava as
atenções, devido a sua maneira excêntrica de se vestir. Em abril daquele ano, o
Queen apareceu pela primeira vez na televisão e causou impacto imediato,
levando a música Seven Seas Of Rhye às paradas. O lançamento de Killer Queen em
outubro/74 foi um grande marco para a banda.
Freddie chegou a ser premiado
pela música, que segundo Brian, é a que melhor sintetiza o estilo do grupo, e
felizmente apareceu no momento certo". Ela alcançou o segundo posto nas
paradas, e confirmou a presença de Queen no cenário musical. "Muita gente
pensava que nós éramos uma banda de heavy metal", disse John, "mas
Killer Queen mostrou um lado completamente novo do grupo, e nos abriu um maior
espaço, que certamente atingiu a um maior número de pessoas". O disco se
chamava Sheer Heart Attack, trazia na capa a banda toda coberta com vaselina e
molhada por uma mangueira!
"O resultado final,"
admitiu Freddie, "é uma banda com quatro elementos decididamente
bronzeados e esbeltos, e tão ensopados como se tivessem suado a semana
inteira!" Logo, porém, eles estariam suando de verdade, excursionando pela
Inglaterra pela terceira vez no ano para consolidar seu sucesso natal. A turnê
de 1974 provocou um frenesi sem igual dos fãs. Em algumas noites, a banda mal
podia deixar o palco. Na Escócia, houve até brigas e feridos na platéia. E nos
Estados Unidos foram agendados cinco shows em Nova Iorque.
Nesta época, a guitarra sinfônica de Brian e o
toque diferente do piano de Freddie já eram marcas registradas da banda. Muitas
pessoas acreditavam que eles faziam uso de sintetizadores, mas nos primeiros
nove discos nunca houve nem sintetizador nem orquestra, e nem mesmo qualquer
outro músico além deles apenas. "Bohemian Rhapsody" colocou-os de vez
entre os monstros do rock. Ela levou cerca de três semanas para ser gravada,
pois se tratava de três músicas condensadas em uma. Muita gente do showbis
duvidava que uma música com sete minutos pudesse chegar às paradas, mas ela
emplacou por 17 semanas, no mínimo. Ainda assim, o sucesso nos Estados Unidos
demorava para se confirmar, e para piorar, Freddie perdeu a voz no meio da
turnê americana.
Felizmente, no Japão, as coisas
foram diferentes. Cerca de 3000 garotas esperavam por eles aos berros no
aeroporto de Tóquio. O quinto álbum, "A Day at the Races" (1975), foi
marcado por uma festa memorável num hipódromo, no sul de Londres. Era a
primeira vez que o Queen produzia seu próprio disco, e o sucesso de "We
Are the Champions" conquistou finalmente os Estados Unidos.
O sucesso do disco foi comemorado
num concerto para 150.000 fãs, no Hyde Park, em Londres, com entrada franca.
Iniciaram assim, uma tradição que foi perpetuada por astros de peso de Pink
Floyd a Pavarotti! A imprensa deste período, que se voltava para o punk rock,
tentava destronar o Queen de várias formas, mas a resposta do público ainda era
impressionante. No palco, as calças de couro de Freddie levantavam insultos da
crítica, e ele respondia profeticamente, "Estamos usando apenas nossas
próprias armas, e se elas valerem alguma coisa, sobreviveremos".
Na turnê de 1978, Freddie
aparecia carregado por dois fortões vestidos de Supermen, como numa provocação.
Ao final dos anos setenta, o Queen procurava uma nova fórmula de sucesso para o
rock, e ela finalmente veio com "Crazy Little Thing Called Love",
música feita no estilo de Elvis Presley, e a primeira a alcançar o primeiro
lugar nos Estados Unidos.
"Não medimos nossa reputação pelas
paradas de sucesso", disse Brian, "mas cada hit que você faz, acaba
atraindo um novo tipo de público". No palco, "Crazy" fazia
Freddie trocar seu famoso microfone por uma guitarra acústica de 12 cordas,
além de trazê-lo com seu novo visual de cabelos curtos E de repente, a crítica
voltou a fazer as pazes com o grupo, impressionada ainda mais pela participação
da banda num concerto beneficente, em dezembro de 1979, pelo povo de Kampuchea.
O disco "The Game"
trouxe o sucesso de John Deacon, "Another One Bites the Dust", que
abriu um novo mercado para o Queen: as rádios de música negra. O próximo passo
foi a trilha sonora de Flash Gordon. Em fevereiro de 1981 foi a vez de uma
grande turnê pela América Latina. "Nós estávamos muito nervosos",
admitiu Freddie.
"Não tínhamos o direito de criar
expectativas num lugar totalmente estranho. E acho que eles nunca tinham visto
um show tão ambicioso antes". É claro que o sucesso foi estrondoso. E
algum tempo depois, nem mesmo a Guerra das Malvinas impedia que o grupo
dominasse as paradas argentinas. O concerto deles em São Paulo reuniu o número
inacreditável de 251.000 pessoas, imortalizando o grupo nas páginas do Guinness
Book.
A primeira coletânea de sucessos da banda
ficou mais de três anos nas paradas britânicas! Mas o próximo álbum "Hot
Space" não atingiu o sucesso esperado e marcou uma pausa na carreira do
Queen - a primeira em doze anos de união. Entretanto, Freddie não admitia que
se falasse em separação.
"Eu achava que ficaríamos
uns cinco anos juntos, mas agora estamos muito velhos para desistir".
Realmente, a pausa aumentou o apetite por novas músicas. E o trabalho lançado
em 1984, "The Works", trazia pérolas como Radio Ga Ga, de autoria de
Roger, e que fez a banda alcançar um feito inédito todos os quatro elementos do
grupo tiveram suas próprias composições no hit parade. Outra música, "I
Want to Break Free", trouxe um vídeo audacioso, com toda banda travestida
de mulher, e arrancou risadas até de seus fiéis seguidores. Mas nos Estados
Unidos, teve o efeito inverso.
Enquanto o resto do mundo ria, os
americanos se ofendiam. Em outubro de 1984, outra controvérsia surgiu: o grupo
tocou oito dias na capital da Africa do Sul, e certamente foi acusado de
racismo, devido ao apartheid. Já 1985 iniciou brilhantemente, com dois shows no
Rock in Rio, em janeiro, aqui no Brasil.
"Primeiramente, fomos à
América do Sul como convidados. Mas agora, eu quero comprar o continente
inteiro e me tomar presidente", comentou Freddie. Oprimeiro disco solo de
Freddie Mercury chamava-se "Mr. Bad Guy", e era bem diferente do
trabalho do Queen. No entanto, não era a música de Freddie que importava para a
mídia, e sim sua vida amorosa.
Ele já havia admitido
publicamente, a exemplo de Elton John, que se sentia atraído por ambos os
sexos. Seu relacionamento com Mary Austin, havia se transformado numa forte
amizade. E ele admitia que era muito difícil encontrar a companhia ideal.
Mas queria continuar tentando.
Com relação ao Queen, a participação no concerto "Live Aid" foi
motivo de orgulho para a banda. "Foi um daqueles dias em que nos alegramos
por fazer parte do showbis. O show aumentou a nossa moral, e nos mostrou a
força que tínhamos na Inglaterra". O próprio Bob Geldof, idealizador do
concerto, elegeu-os como a melhor banda de todas. A turnê Magic Tour teve que
adicionar mais datas para apresentações em Wembley, na Inglaterra, pois os
oitenta mil ingressos disponíveis foram vendidos imediatamente, apenas por via
postal. Mais tarde veio o sucesso da trilha sonora de Highlander.
Além disto, o maior solo de Freddie, "The
Great Pretender", atingia as paradas, seguido por "Barcelona"
com a cantora de ópera Montserrat Caballé.Em maio de 1989 apareceu o primeiro
disco do Queen após 3 anos, "The Miracle", mas Freddie não se dispôs
a enfrentar uma turnê. Roger rapidamente reagiu aos comentários sobre o estado
de saúde de Freddie.
"Que nada! Freddie está mais
saudável do que nunca". Entretanto, Freddie quase não saía mais de sua
mansão em Londres. Em fevereiro de 1990, a indústria fonográfica britânica os
premiou pela sua importante contribuição para o mundo musical, mas os
jornalistas só se preocupavam com a aparência pálida de Freddie. Brian o
defendeu:
"Ele está bem e não tem AIDS, mas eu acho
que o estilo pesado do rock o derrubou. Ele precisa apenas descansar. Em 1991,
surge o álbum "lnnuendo", alcançando o primeiro lugar nas paradas,
mas os rumores sobre a saúde de Freddie eram maiores do que nunca. Finalmente,
em 23 de novembro de 91, uma curta declaração confirmou o pior.
"Seguindo as enormes conjecturas da
imprensa, quero confirmar que sou soro positivo e portanto tenho AIDS. Achei
correto manter esta informação oculta para proteger a privacidade dos que me
rodeiam. Entretanto, chegou a hora dos meus amigos e fãs ao redor do mundo
saberem a verdade, e eu espero que todos, juntamente com meus médicos, lutem
contra esta terrível doença.
Minha privacidade sempre foi muito importante
para mim, e eu sou famoso por não dar entrevistas. Por favor, entendam que esta
política continuará". No dia seguinte, Freddie morreu. A banda logo fez
questão de anunciar que sem Freddie Mercury o Queen não poderia sobreviver. "Não
há sentido em continuar.
E impossível substituir Freddie.
Estamos terrivelmente abalados com sua ida, mas muito orgulhosos do modo
corajoso com que ele viveu e morreu. Foi um privilégio dividir com ele momentos
tão mágicos". Em abril de 1992, um concerto em homenagem ao mestre dos
palcos de todos o tempos foi realizado em Londres, no Wembley Stadium.
Vários astros compareceram. De
Elton John a Guns N' Roses, Def Leppard a Liza Minelli, todos vieram se
despedir de Freddie. De todas as homenagens do dia, a de Axl Rose foi a mais
tocante. "Se eu não tivesse conhecido as letras de Freddie Mercury quando
era garoto, não sei onde eu estaria hoje. Foi ele quem me ensinou sobre todas
as formas de música, e abriu a minha mente. Nunca houve um maior professor em
minha vida".
Os 75 mil ingressos para o show
venderam em seis horas. "Para muitos fãs", disse Roger Taylor,
"este show substituiu o tradicional velório. Foi o modo de todos dizerem
adeus". O relançamento de Bohemian Rhapsody não foi o último modo de
comemorar a vida de Freddie. Brian May também deixou de lado sua guitarra e
sentou-se ao piano para tocar uma nova música chamada "Too Much Love Will
Kill You".
E um álbum duplo da última turnê
da banda em 1986 foi lançado, lembrando o que o mundo havia perdido. Mas é claro
que enquanto a voz de Freddie continuar ecoando nas músicas do Queen, ele e
também nós seremos sempre campeões, como ele já previa em We Are the Champions.
da música. Mesmo antes da trágica morte do líder vocalista Freddie Mercury, em
novembro de 1991, o grupo já era reconhecido como um dos maiores de todos os
tempos.
*** Obrigado á todos que me ajudaram com informações.
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